quinta-feira, 16 de setembro de 2010


Miss Chopsticks de Xinran

(...) A ignorância dos ocidentais que iam à casa de chá também a surpreendia. Aprendera história do Ocidente na escola. Conhecia o negro passado colonialista dos Britânicos e a sua exploração dos escravos, a sangrenta guerra civil americana, a batalha da Holanda, de Espanha e Portugal pela hegemonia dos mares; estudara baixa-relevos franceses, as ruínas de Roma antiga e os mitos gregos. Por conseguinte, esperara que os estrangeiros soubessem tudo sobre os tijolos Qin e os mosaicos Han, a poesia das dinastias Tang e Song, as Quatro Grandes Invenções  e os romances das dinastias Ming e Qing...mas um dia, um amigo de Ruth pedira a Seis que lhe dissessem quais eram as Quatro Grandes Invenções, como se não soubesse que eram «o papel, a tipografia, a pólvora e a bússola»! E nenhum daqueles estrangeiros parecia ter ouvido falar no Livro das Odes ou n' O Sonho das Mansões Vermelhas.       
                - Impossivel, impossivel! - exclamava Seis. - Aqui todos os alunos conhecem Shakespeare, Dickens e Victor Hugo. Como é que vocês podem não conhecer Cao Xueqin e Tang Xianzu? Não somos um pais pequeno, temos uma grande população e uma longa historia! Porque não sabem isto?
              Mas, ao mesmo tempo, os amigos de Ruth afirmavam saber muitas coisas acerca da China que Seis desconhecia, e estavam sempre a fazer perguntas tão difíceis que até os alunos universitários chineses que iam à casa de chá praticar inglês tinham dificuldade em responder-lhes. Os estrangeiros diziam que o camarada Mao deixara morrer muitas pessoas à fome, mas Seis lembra-se de os professores na aldeia terem dito que sem o camarada Mao os seus avós teriam todos morrido à fome...  Depois havia histórias sobre como os Chineses tinham construído caminhos-de-ferro para os Norte-Americanos, como plantas europeias tinham sido levadas para a China, como a taxa de suicídio na China era a terceira mais elevada do mundo, como mais de vinte países tinham adoptado várias centenas de milhar de meninas órfãs, como os alunos chineses que estudavam no Ocidente eram os mais ricos, mas não sabiam fazer perguntas nas aulas...
             Seis não sabia onde é que os estrangeiros tinham ouvido todas aquelas coisas sobre a China. Seria aquilo a «propaganda» a que Kang se referira quando afirmara que os meios de comunicação ocidentais diziam coisas acerca da China que não eram verdade? Por que razão a China que aqueles estrangeiros descreviam ás vezes lhe parecia irreconhecível? (...)

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